sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Drama

Desculpe-me, mas não posso continuar. O tempo passou e, com ele, a ingenuidade que tinha se perdeu em minha infância. Meus olhos não brilham mais como antes, quando estavam á procura de novas histórias, quando viam somente o que queriam ver... Mas são olhos espantados, mais maduros que antes, de quem está descobrindo o verdadeiro mundo. Não há como voltar nem recuperar toda a beleza perdida, e não há como prosseguir sem ter se deixado afetar pelos grandes rasgos no nosso coração. Corrompidos, teremos que continuar. Cresceremos sabendo que uma grande parte de nós se estragou e que a outra enfraquece a cada dia, lutando para trabalhar em dobro e não perder o pouco de dignidade que nos resta. Envelheceremos rezando para que não seja tarde demais e que a geração futura perceba o vazio que está substituindo a expressão de seus rostos.

domingo, 18 de outubro de 2009

Desilusão

Príncipes saíram de moda. Diga-me o que há de interessante em cavalos, castelos, e toda essa 'pieguisse romântica de mundo encantado'? Sempre gostei das histórias que fugiam disso. Casais totalmente fora dos padrões, vivendo nesse mundo de podridão, mas extraindo o que havia de melhor em cada um e aprendendo a conviver com os defeitos que encontravam. Casais em busca de aventuras, sem uma trilha certa, apenas procurando por diversão... Cometendo erros, mas sendo felizes. O inusitado é mais excitante que o previsto. Não existe a fórmula perfeita para nada, nós mesmos fazemos o que estiver ao nosso alcançe para moldar a nossa felicidade.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Um diário

Um diário é um amigo? Uma companhia? Também. Mas é sobretudo a duplicação da gente mesmo, espelho que não se apaga quando o rosto se retrai ou muda, álbum de retratos que conserva muito mais que um belo sorriso e a paisagem de fundo. Quieto, compreensivo, calmo, o diário está ali, aberto e limpo. Oferecendo seu espaço, no qual você vai desenhar a sua vida e ele apenas... receber. Ele não tem recriminações a fazer, ele não diz que a culpa é sua, ele não encosta dedos na ferida. Como uma cama, como um mar, ele recebe. Você escreve muito se a emoção é forte, vai e volta e repete e repisa o mesmo assunto. Ninguém conta seu tempo, ninguém conta suas páginas. Você pode escrever até a mão cansar, até a alma aliviar. Você pode escrever e escrever e escrever. Ele aceita. E quando não quiser escrever mais, é só fechar e guardar o diário que ele mais nada exigirá. Não me diga que não tem o que contar. Você é o centro do seu universo, nada é mais importante do que aquilo que lhe diz respeito. Isso é que faz o encanto do diário. Se fosse usado apenas para registrar a queda do governo ou a evolução dos projetos orbitais, seria desnecessário, porque para isso já existe a imprensa, os arquivos, os registros da memória nacional. O diário serve justamente para conservar o pequeno acidente humano e individual, sua discussão com um amigo, o namoro lancinante, a dúvida sobre a roupa para usar naquela festa... O diário serve para conservar você. (Marina Colasanti)