domingo, 15 de julho de 2012

O recanto do esquecimento

"Feliz é o destino da inocente vestal/ Esquecendo o mundo e sendo por ele esquecida./ Brilho eterno de uma mente sem lembranças/ Toda prece é ouvida, toda graça se alcança." 
(Alexander Pope)

(Imagem: http://migre.me/9L3Zi)

No filme "O brilho eterno de uma mente sem lembranças" vamos conhecer Joel e Clementine, um casal que, depois se apaixonarem repentinamente, sofrem as decepções da vida a dois. Até aí, nenhuma novidade. Um cenário típico de qualquer filme hollywoodiano. A questão é que, atormentada pelas memórias da vida com Joel, Clementine decide apagar as lembranças do seu ex-namorado. Isso mesmo, ela descobre uma clínica especializada nesse procedimento e decide se arriscar. Com isso, após o tratamento surtir efeito, é como se ela nunca o tivesse conhecido. Triste (Ou não?).

A tríade amar-sofrer-esquecer é um clichê da vida. Se você nunca sofreu por amor (ah, querido, sofrerá)ao menos conhece alguém que já teve o coração partido. Não é nenhuma maldição, nem nada disso. A razão é bem simples, na verdade. Relacionamentos são complicados porque as pessoas são complicadas. São diferentes. Cada uma com seu jeito de encarar a vida. E isso é bom, se você souber lidar com as diferenças. E, se não souber, vai ter que aprender. Mas, antes disso, vai sofrer.

Prepare-se para um dos maiores desafios da vida: a partilha. Partilhar a sua vida com alguém pode parecer fácil no começo, mas se tornará uma árdua tarefa. Sou pessimista? Não, é a realidade. Vejam bem. Não revelamos nossos segredos no primeiro encontro, não despejamos nosso mau humor matinal no (a) namorado (a) que a gente só encontra nos finais de semana, nem expomos a ele (ela) os nossos momentos de melancolia. Tudo isso exige tempo, o tempo dá intimidade, a intimidade revela segredos e segredos, quando revelados, geram conflitos.

Clementine e Joel foram vítimas da intolerância humana. Tão logo se viram confinados com os defeitos um do outro, sucumbiram à tranquilidade de suas vidas solitárias. (Ela porque quis e ele porque assim teve que ser). Eles se assustaram ao perceber que a pessoa pela qual haviam se apaixonado não era perfeita.

Mas, digam-me, o que seria da nossa vã existência sem que as decepções nos ensinassem valiosos segredos sobre a vida? Como poderíamos aprender algo sobre nós mesmos se não fossemos expostos ao erro? A questão é que, se isso fosse realmente possível (apagar algumas lembranças) vocês acham que os resultados seriam positivos? Eu digo que não.

Erramos para aprender e, sem esse aprendizado, viver é em vão. Se cada dia é um dia diferente é porque fazemos dele diferente. Mudamos atitudes, concertamos o que pode ser concertado e assim vamos seguindo. Errando e acertando e querendo fazer tudo dar certo. Se esquecermos das decepções, vamos cometer os mesmo erros de novo. E de novo. E de novo...

Joel, ao decidir se submeter ao mesmo tratamento de Clementine, percebe que não quer esquecê-la. Na luta para preservar as memórias de sua amada, ele procura forças para impedir que o procedimento seja realizado por completo. Eis que a vida, misteriosa como só ela é, resolve ser generosa com o casal e dá uma segunda chance ao relacionamento. Para saber como isso vai acontecer, só assistindo ao filme. Um dos meus preferidos! 

E você, seria feliz no esquecimento?