segunda-feira, 10 de julho de 2017

Retalhos

Esqueça as poesias no bar
O frio, a cerveja mais gelada
Que a brisa cortando o seu rosto
Você tremendo da cabeça aos pés
Suas mãos grandes que pareciam
Tão pequenas, e você que pareceu
Durante muito tempo só um menino.

Esqueça o sexto andar,
O pôr do sol que sobrevive
Nessa cidade tão cinza, mas o ceú
O céu aqui é sempre tão bonito,
                                                   [já percebeu?]
As escadas intermináveis, meu coração que
Acelerava a cada degrau ultrapassado
Você me esperando no topo do
Sexto andar.

Esqueça a sessão das 20 horas
A terça-feira do primeiro encontro
A céu aberto, fora das paredes de concreto
E daquele ambiente de tensão permanente
(Segundo alguns, tensão sexual)
O filme francês que afinal não era Truffaut
Mas era um pouco mais do que apenas
                                                               [okay].

Esqueça Beethoven e os
Sentimentos de Alegria e Gratidão Depois da Tempestade
Afinal, não choveu, mas os sentimentos foram os mesmos
As caminhadas no centro que não me pareceu mais
Tão assustador estando ao lado de vocês
De você, que parece sempre saber
Mais do que eu, mais do que
Todo o mundo.

Esqueça os retalhos que ficaram
A caminhada no parque, o verde das
Árvores que riscadas tiveram que se defender
Assim como eu estou fazendo agora
Assim como eu venho fazendo
                                                       [há tanto tempo]
A mão que eu te dei, e o beijo que você
Na esquina da Haddock com a Antônio Bastos
Me tirou, não me roubou, porque ele já era seu.

Que você se lembre de tudo o que a gente
Não viveu, das músicas e dos filmes e dos
Livros que eu não te falei não sei porque, já que
Tudo me lembra, tudo me lembrava você
Que fique a impressão, apenas, esse poema
Tal como uma madeleine, um resquício
Da história que a gente
Não viveu.