domingo, 27 de agosto de 2017

Cenas do cotidiano

1.

Eu poderia dizer que a nossa mesa é pequena, mas ela acomoda você e eu, e duas xícaras de chá, e um livro.

Essa mesa tem o tamanho do mundo.

2.

O único dia em que eu não dormi bem na nossa cama foi quando eu demorei demais a chegar. Você já dormia, um livro sob os braços, a luz acesa, a boca meio aberta e o cobertor a lhe aninhar. Eu deitei, e mesmo sem acordar, suspeito, você me cobriu.

Nessa noite, te amei em silêncio.

3.

9h15

"Temos tempo"

É o que sempre dizemos, ou melhor, é o que você sempre diz, ao que eu respondo

"Você vai se atrasar".

O que não é exatamente uma resposta brilhante. Não sei se você acredita no que diz, e me pergunto se eu acredito no que você diz, se alguma vez acreditei.

A verdade é que não importa os 15 minutos que nos restam, a hora que o seu relógio marca, a máquina que toma a nossa digital para precisar o exato momento em que chegamos, e o quão produtivos fomos.

Não importa as planilhas a preencher, os números de palavras, as datas de entrega, os e-mails passivo-agressivos, o falatório na mesa de trás.

Não importa os poucos minutos de intervalo, a hora que o computador marca, e que você espertamente tirou da sua tela, quantos minutos faltam para o táxi chegar, para o expediente terminar...

Afinal, nada disso importa.

"Temos tempo", você diz.

E eu acredito.

domingo, 6 de agosto de 2017

Pre
      ci
          pí
              ci
                  o

Precipitar-se no precipício.

É precipitado,
Dirão.
Os outros são sempre
Os outros.
Que importa?
Precipitar-se
Não é de todo
Mal. Ou é?
Vai dar pé?
Não sei,
Não me
Interessa.
Apenas
Quero.
Sinto que
É certo.
Afinal,

É você.